Também conhecido como neoplasia maligna de bexiga, ou câncer vesical, é um tumor maligno que acomete a bexiga urinária, órgão responsável pela coleta e pelo armazenamento da urina produzida pelos rins. O câncer de bexiga é, de fato, um dos tipos mais frequentes da doença. Além disso, seu subtipo mais comum é o carcinoma urotelial de bexiga, também conhecido como carcinoma de células transicionais. Na maioria dos casos (75%), o câncer de bexiga é superficial ao diagnóstico e tem boas chances de cura. No entanto, essas lesões têm altas chances de recidiva (até 75% em 5 anos). Por isso é necessário um acompanhamento cuidadoso com o urologista após o tratamento.
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Epidemiologia
O câncer de bexiga é o 7o câncer mais frequente no sexo masculino e o 11o no feminino. A maioria deles ocorre em países mais desenvolvidos. Embora seja mais frequente nos homens (3/4 dos casos de câncer de bexiga), quando ocorre em mulheres costuma ser mais agressivo e com maior risco de recorrência após o tratamento.
No Brasil, em 2015 ocorreram quase 4 mil mortes pelo câncer vesical.
Fatores de risco
- Idade: o risco de desenvolver câncer de bexiga aumenta com a idade. Portanto é mais comum em pacientes com 50 a 70 anos, principalmente após os 65 anos;
- Tabagismo (cigarro): o consumo de cigarro aumenta a incidência (2 a 4 vezes mais chances do que em não-fumantes) bem como a gravidade do câncer de bexiga. Por isso, o risco de desenvolver a doença é maior conforme o número de cigarros fumados por dia. Acredita-se, então, que 50% dos tumores de bexiga estejam relacionados ao cigarro;
- Etnia: pacientes brancos apresentam maior chance de desenvolver câncer de bexiga, mas afrodescendentes podem ter tumores mais agressivos;
- Exposições do Trabalho (Ocupacionais): pacientes expostos por mais de 10 anos a agentes químicos como, por exemplo, betanaftalina, benzeno e aminas aromáticas, apresentam um risco aumentado de desenvolver câncer de bexiga. Afinal, estes compostos podem ser encontrados na indústria têxtil, na produção de couro, tintas e sapato. Assim como em derivados do petróleo, na indústria de aço e siderurgia;
- Radioterapia Pélvica: pacientes submetidos à radioterapia da pelve (bacia) há mais de 10 anos (como, por exemplo, pacientes tratados de câncer de próstata) possuem um risco 2 a 4 vezes maior de desenvolver câncer de bexiga;
- Doenças Genéticas: existe uma grande quantidade de doenças bem como alterações genéticas que aumentam o risco de desenvolver câncer de rim. Entre elas, por exemplo, a Síndrome de Lynch 2.
Sintomas do câncer de bexiga
– Sangue na Urina (hematúria) é, sem dúvida, o principal sintoma (90% dos casos);
– Desejo de urinar mais vezes por dia e durante a noite;
– Dor ao urinar;
– Dificuldade para urinar (esforço para sair o jato, jato urinário fraco, etc.).
Diagnóstico do câncer de bexiga
- Cistoscopia + Ressecção Transuretral (RTU) da Bexiga: é, sem dúvida, o melhor exame para se diagnosticar o câncer de bexiga (insubstituível). Consiste, portanto, na introdução de uma pequena câmera pela uretra até a bexiga. Então, há identificação da lesão tumoral e “raspagem” da mesma, bem como envio de uma amostra para anátomo-patológico (biópsia);
- Citologia Oncótica Urinária: é a pesquisa de células tumorais (câncer) em uma amostra de urina. Consegue identificar bem cânceres agressivos, mas não detecta a maioria dos tumores de bexiga. Isso porque são pouco agressivos na maior parte das vezes;
- Ultrassom dos Rins e Bexiga: é o exame inicial realizado na maior parte das vezes quando se suspeita de câncer de bexiga. Dessa forma, consegue identificar lesões grandes e diferenciar câncer de coágulos na bexiga. No entanto, não permite identificar tumores pequenos na bexiga (< 5 mm);
- Tomografia e Ressonância: exames solicitados para se investigar o quanto avançado está o câncer de bexiga. Então, conseguem verificar se o tumor vesical está ultrapassando os limites da bexiga e invadindo órgãos adjacentes. Assim como pode identificar o tumor está espalhado pelo corpo (fígado, pulmão, etc.);
- PET-CT: exame mais moderno, utilizado para pesquisar lesões metastáticas (espalhadas pelo corpo) do tumor de bexiga. Entretanto, ainda não é consenso se é melhor do que a tomografia ou então a ressonância.
Tratamento do câncer de bexiga
Ressecção Transuretral (RTU) da Bexiga
Consiste na introdução de uma pequena câmera pela uretra até a bexiga, com identificação da lesão tumoral e “raspagem” da mesma. Serve não só para diagnóstico, mas também para tratamento do câncer de bexiga. Isso porque consegue ressecar completamente a maioria dos tumores, uma vez que a maior parte deles é superficial.
Instilação Intravesical de BCG
É indicada para pacientes com muitos tumores dentro da bexiga (múltiplos), com tumores grandes ou mais agressivos, assim como naqueles com maior risco de recorrência. É feito dentro da bexiga após a ressecção dos tumores por RTU de bexiga como forma de complementação do tratamento. Dessa maneira, consegue-se reduzir o risco de recorrência do câncer.
Tratamento Cirúrgico (Cistectomia Radical)
Consiste na remoção cirúrgica completa da bexiga. Está indicada nos casos de câncer de bexiga muito grande ou nos localmente avançados (ultrapassando os limites da bexiga em direção aos órgãos adjacentes). Além disso, pode ser feito em tumores mais agressivos que recidivaram logo após a RTU de bexiga. No entanto, nos homens a cistectomia inclui a ressecção da próstata e de parte da uretra. Nas mulheres a cirurgia inclui, na maioria das vezes, a remoção do útero, dos ovários bem como de parte da vagina.
Quimioterapia
Pode ser realizada antes da cirurgia radical (cistectomia) ou então após o tratamento dos tumores avançados. Afinal é uma forma de evitar a recorrência do câncer de bexiga e que ele se espalhe pelo corpo (metástases).
Radioterapia
Da mesma forma que a quimioterapia, a radioterapia pode ser utilizada durante o tratamento do câncer de bexiga antes ou depois da cirurgia radical (cistectomia). Nesse sentido, é uma forma de melhorar os resultados e, assim, evitar a recorrência local ou a ocorrência de metástases.
Terapia de Preservação Vesical
Para aqueles pacientes muito idosos ou com doenças crônicas graves, que apresentam elevado risco cirúrgico e talvez não tolerariam uma cirurgia tão grande quanto uma cistectomia radical (remoção completa da bexiga), é possível realizar a preservação da bexiga através da ressecção transuretral (RTU) completa das lesões dentro da bexiga, seguida por quimioterapia e radioterapia. Apesar de ser atraente a idéia de se tratar o câncer de bexiga avançado preservando-se a bexiga, o risco de recorrência do tumor e o de metástase (espalhar pelo corpo) é maior quando comparada a cistectomia radical.
Reconstrução do trato urinário
Logo após a remoção completa da bexiga, o urologista deve construir um novo local para a urina produzida pelos rins ser coletada dentro do corpo. A isso damos o nome de “derivação urinária”, existindo vários tipos de reconstruções. Contudo, na maioria das vezes, o cirurgião utilizará uma parte do intestino (grosso ou fino) para produzir um novo reservatório de urina.
- Reconstrução a Bricker (Conduto Ileal): a urina é drenada para um segmento de intestino desconectado do trânsito intestinal (não passa mais comida) que será exteriorizado pela pele (estoma). Entretanto, a urina então sai do corpo por este estoma e fica coletada numa bolsinha (esvaziada pelo paciente ao longo do dia). Apesar de parecer assustador, a maioria dos pacientes se adapta bem ao Bricker. Dessa forma, voltam a ter uma vida ativa e saudável, satisfeitos pela escolha deste tipo de derivação;
- Neo-Bexiga Ortotópica: consiste em criar uma “nova bexiga” utilizando um segmento do intestino que irá coletar a urina produzida pelos rins e, assim, será ligada a uretra. Portanto, esta derivação permite ao paciente urinar normalmente, sem a necessidade de uma bolsinha para coletar o líquido. Embora pareça atraente, esta derivação pode causar problemas a longo prazo. Além disso, nem todos os pacientes com câncer de bexiga avançado estão aptos a realizar este tipo de reconstrução.